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terça-feira, 1 de abril de 2014

30 de março de Puerto Varas para San Carlos de Bariloche


UM DIA PARA FICAR NA HISTÓRIA! (pelo menos na minha, rsss)

Saí de Puerto Varas a uma da tarde, fiquei esperando o tempo melhorar, mas que nada, era chuva e chuva, e frio e frio. Bem como dizia minha vó “o que não tem remédio, remediado está”. Me enchi de coragem e roupa e lá fui eu para a estrada.

80 km a frente já estava em Osorno, peguei a saída para Entre Lagos e segui, abaixo d’agua, mas a calça e a jaqueta da BMW davam conta e eu estava seco. Passei Entre Lagos, uma linda cidadezinha as margens de um lago, como diz o nome. O outro eu não vi, rssss.

Conforme subia a montanha, a chuva diminuía e o vento aumentava, então pensei na Argentina deve estar melhor. Passei na aduana chilena e veio a notícia: ta nevando no passo, Hum? Que? Neve? Finalmente vou andar na neve, heeeeeee!

Subi na moto, agora não vai ter chuva, vamos ver a neve, quem sabe até brincar um pouco. Ledo engano, a medida que me aproximo da divisa dos dois países, no cume da montanha a paisagem começa a se transformar, vai ficando tudo branco, e começa a nevar, timidamente, e eu todo animado. Que lindo, mais uma aventura pensava eu, não sabia o que estava por vir, rsss.

Nesse ponto quase não conseguia mais andar sem deslizar de um lado para o outro. 

Cruzo a fronteira, aí já havia bastante neve e a estrada começava a dar sinais de dificuldade para controlar a moto. Começo a descer, faço uma curva suavemente inclinada e a moto começa a deslizar, aaaiii, nããão. Busquei os freios, pior, pus os pés no chão, o solado da bota liso, não segurava quase nada mas consegui parar, ufa, bem no meio da pista. Quando olhei um pouco mais na frente, um caos, havia uns três caminhões, um caído do lado direito da pista, outro do lado esquerdo, e um atravessado na pista. Mais a frente um pouco dois ônibus parado no acostamento, um havia tombado de lado. Carros parados, gente assustada, tava feia a coisa, e eu ali, achando que iria me divertir.

Como fazer para andar no meio daquela confusão? A pista tinha uns cinco centímetros de neve acumulada, o asfalto estava congelado, a moto insistia em deslizar lateralmente. Lá fui eu, segurando o freio dianteiro, largava um pouquinho e caminhando, um pé de cada vez, me borrando de medo de cair, pois se caísse como levantaria a moto? e como subiria na moto se estava esturricado de roupa, sem cair de novo? Assim segui por +ou- uma hora, caminhando e descendo, e nevando, forte.

Quando terminou a descida mais íngreme a moto não tinha mais impulso, a estrada cheia de neve e eu precisava engatar a primeira marcha para tracionar. E cadê a coragem?  Como fazer para tirar o pé do chão e engatar a marcha? E como dar tração em cima do gelo? Que medo, que terror! A paisagem era linda, muito, mas eu estava apavorado com a possibilidade de cair. Devagar tentei, me equilibrando comecei a andar, 5, 10 km/h e assim foi mais um pedaço. Depois outro pedaço, e como estava baixando a montanha, de a pouco a neve começa a se transformar em chuva, o asfalto passa de congelado para molhado e fui indo. Uns 20 km a frente cheguei na aduana argentina. Consegui, foi uma emoção muito forte, superei o inesperado, o desconhecido, sim porque eu nunca havia andado numa estrada congelada e nevando.

Fiz os trâmites aduaneiros para ingressar no país, e voltei para a moto, foi quando vi que estava cheio de neve em cima da carga.



Fiquei um tempo por ali, para me recuperar da situação que havia passado, e então veio a notícia, o paso estava fechado, muita neve, caos total, e já eram mais de 7 da noite. Muitas pessoas vieram me perguntar como eu havia conseguido passar e outro diziam eu vi ele caminhando com a moto. O peito estufado de orgulho, havia feito uma coisa quase inimaginável, e passei ileso. Cheio de orgulho, criei coragem e encarei a chuva, mais 30 km e chegaria a Villa la Angostura. Toquei.

Quando parei no posto de gasolina, já havia andado uns 240 km e precisava abastecer, era noite fechada. Abasteci e fui a loja de conveniência tomar um chocolate quente para me aquecer e decidir se seguiria viagem. Chamei por telefone o Mariano e lhe perguntei como estava o tempo em Bariloche, e ele me disse que chuvia forte e a temperatura estava na casa dos 5 graus. Então pensei, são 85 km até Bariloche, meus pés já estavam molhados a roupa também, embora eu estivesse quase que completamente seco, vou terminar com isso hoje. Não vou ficar por aqui e amanhã, com roupa molhada, tomar mais chuva e seguramente muito frio, não, vou agora, e fui.

Andando a noite, uma escuridão total, chuva, e frio, na estrada o painel da moto marcava, as vezes 3, as vezes 4 graus, e eu seguia a 60, 50 km/h, muita curva, e vento e chuva, cansei. As 10 horas da noite entrava em Bariloche, agora era só encontrar a casa do Mariano e estava salvo, e assim foi.

Cheguei, exausto, extasiado pela aventura do dia, foi muita adrenalina. Mesmo molhado recebi um caloroso abraço do amigo Mariano e então me senti em casa. Um dia para ficar na história, mesmo que seja só na minha, rsss.  Tenho mais uma aventura para contar para meus bisnetos, sim porque para os netos já conto.

Abraços

P.S. Não consegui tirar muitas fotos pois ou chovia demais ou tinha medo de cair quando estava no meio da nevasca. Então como tirar as mãos do guidão? rsss

2 comentários:

  1. Cadê o video da pilotagem na neve?

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  2. Complicado hein? Bom que chegou bem. eu já rodei na neve e sei o medo que dá.
    abraço,
    ALlan

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