UM DIA PARA FICAR NA HISTÓRIA! (pelo menos na minha, rsss)
Saí de Puerto Varas a uma da tarde, fiquei esperando o tempo
melhorar, mas que nada, era chuva e chuva, e frio e frio. Bem como dizia minha
vó “o que não tem remédio, remediado está”. Me enchi de coragem e roupa e lá
fui eu para a estrada.
80 km a frente já estava em Osorno, peguei a saída para
Entre Lagos e segui, abaixo d’agua, mas a calça e a jaqueta da BMW davam conta
e eu estava seco. Passei Entre Lagos, uma linda cidadezinha as margens de um
lago, como diz o nome. O outro eu não vi, rssss.
Conforme subia a montanha, a chuva diminuía e o vento
aumentava, então pensei na Argentina deve estar melhor. Passei na aduana
chilena e veio a notícia: ta nevando no passo, Hum? Que? Neve? Finalmente vou
andar na neve, heeeeeee!
Subi na moto, agora não vai ter chuva, vamos ver a neve,
quem sabe até brincar um pouco. Ledo engano, a medida que me aproximo da divisa
dos dois países, no cume da montanha a paisagem começa a se transformar, vai
ficando tudo branco, e começa a nevar, timidamente, e eu todo animado. Que
lindo, mais uma aventura pensava eu, não sabia o que estava por vir, rsss.
Nesse ponto quase não conseguia mais andar sem deslizar de um lado para o outro.
Cruzo a fronteira, aí já havia bastante neve e a estrada
começava a dar sinais de dificuldade para controlar a moto. Começo a descer,
faço uma curva suavemente inclinada e a moto começa a deslizar, aaaiii, nããão.
Busquei os freios, pior, pus os pés no chão, o solado da bota liso, não
segurava quase nada mas consegui parar, ufa, bem no meio da pista. Quando olhei
um pouco mais na frente, um caos, havia uns três caminhões, um caído do lado
direito da pista, outro do lado esquerdo, e um atravessado na pista. Mais a
frente um pouco dois ônibus parado no acostamento, um havia tombado de lado.
Carros parados, gente assustada, tava feia a coisa, e eu ali, achando que iria
me divertir.
Como fazer para andar no meio daquela confusão? A pista
tinha uns cinco centímetros de neve acumulada, o asfalto estava congelado, a
moto insistia em deslizar lateralmente. Lá fui eu, segurando o freio dianteiro,
largava um pouquinho e caminhando, um pé de cada vez, me borrando de medo de
cair, pois se caísse como levantaria a moto? e como subiria na moto se estava
esturricado de roupa, sem cair de novo? Assim segui por +ou- uma hora,
caminhando e descendo, e nevando, forte.
Quando terminou a descida mais íngreme a moto não tinha mais
impulso, a estrada cheia de neve e eu precisava engatar a primeira marcha para
tracionar. E cadê a coragem? Como fazer
para tirar o pé do chão e engatar a marcha? E como dar tração em cima do gelo?
Que medo, que terror! A paisagem era linda, muito, mas eu estava apavorado com
a possibilidade de cair. Devagar tentei, me equilibrando comecei a andar, 5, 10
km/h e assim foi mais um pedaço. Depois outro pedaço, e como estava baixando a
montanha, de a pouco a neve começa a se transformar em chuva, o asfalto passa
de congelado para molhado e fui indo. Uns 20 km a frente cheguei na aduana
argentina. Consegui, foi uma emoção muito forte, superei o inesperado, o
desconhecido, sim porque eu nunca havia andado numa estrada congelada e nevando.
Fiz os trâmites aduaneiros para ingressar no país, e voltei
para a moto, foi quando vi que estava cheio de neve em cima da carga.
Fiquei um tempo por ali, para me recuperar da situação que
havia passado, e então veio a notícia, o paso estava fechado, muita neve, caos
total, e já eram mais de 7 da noite. Muitas pessoas vieram me perguntar como eu
havia conseguido passar e outro diziam eu vi ele caminhando com a moto. O peito
estufado de orgulho, havia feito uma coisa quase inimaginável, e passei ileso.
Cheio de orgulho, criei coragem e encarei a chuva, mais 30 km e chegaria a
Villa la Angostura. Toquei.
Quando parei no posto de gasolina, já havia andado uns 240
km e precisava abastecer, era noite fechada. Abasteci e fui a loja de
conveniência tomar um chocolate quente para me aquecer e decidir se seguiria
viagem. Chamei por telefone o Mariano e lhe perguntei como estava o tempo em
Bariloche, e ele me disse que chuvia forte e a temperatura estava na casa dos 5
graus. Então pensei, são 85 km até Bariloche, meus pés já estavam molhados a
roupa também, embora eu estivesse quase que completamente seco, vou terminar com isso
hoje. Não vou ficar por aqui e amanhã, com roupa molhada, tomar mais chuva e
seguramente muito frio, não, vou agora, e fui.
Andando a noite, uma escuridão total, chuva, e frio, na
estrada o painel da moto marcava, as vezes 3, as vezes 4 graus, e eu seguia a
60, 50 km/h, muita curva, e vento e chuva, cansei. As 10 horas da noite entrava
em Bariloche, agora era só encontrar a casa do Mariano e estava salvo, e assim
foi.
Cheguei, exausto, extasiado pela aventura do dia, foi muita
adrenalina. Mesmo molhado recebi um caloroso abraço do amigo Mariano e então me
senti em casa. Um dia para ficar na história, mesmo que seja só na minha,
rsss. Tenho mais uma aventura para
contar para meus bisnetos, sim porque para os netos já conto.
P.S. Não consegui tirar muitas fotos pois ou chovia demais ou tinha medo de cair quando estava no meio da nevasca. Então como tirar as mãos do guidão? rsss
Cadê o video da pilotagem na neve?
ResponderExcluirComplicado hein? Bom que chegou bem. eu já rodei na neve e sei o medo que dá.
ResponderExcluirabraço,
ALlan